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Observações de diversas naturezas, profundidades e extensões. Diretamente daqui de dentro, pra chegar aí dentro 💛​

Não é fácil ser estrangeira

Não é fácil ser estrangeira.
É uma oportunidade de recomeço, sim, mas o recomeçar também inclui tropeços, vulnerabilidades, inadequações.

É um privilégio imenso poder viver em um país com uma infraestrutura tão impecável e com uma equidade social tão à frente do meu país de origem.

Ao mesmo tempo, ainda falta algo.
Sempre falta, é claro.

Mas às calçadas tão alinhadas e aos vagões de trem tão limpos, falta alguma coisa.
À comida q chega a todos, falta algo.

A teoria da pirâmide de necessidades do Maslow levou muitos a acreditarem, por décadas, q existiria uma hierarquia das necessidades humanas, que vai do básico à sobrevivência, em primeiro lugar (comida, teto, saneamento), ao senso de conexão e autorrealização, em último.

A merda de algumas interpretações desse conceito é a de tratar conexão e autorrealização como supérfluos, ou até mesmo fúteis. E também o de pressupor q quem não tem meios de satisfazer as necessidades básicas sequer sentiria falta dessas do topo da pirâmide.

Aqui em 2021, a gente já sabe que um bebê que não recebe carinho corre risco real de vida, mesmo que ele esteja alimentado e trocado.

Quando a gente emigra, me parece que entramos nessa busca por uma satisfação de algumas necessidades, e que isso acaba custando a satisfação de outras.

Tem quem passe anos na solidão de buscar uma conexão onde ela é tão rara.

E é difícil ser estrangeira.

Você é olhado de um jeito diferente na fila do supermercado, no trem, na entrevista de emprego.

Você não pertence mais ao lugar de onde veio, mas também não pertence ao lugar pra onde imigrou.

Você flutua num espaço que não existe, e isso pode te custar todo o teu senso de identidade.

Você precisa renegociar consigo e com o contexto a cada dia, a cada conversa, a cada correção da sua pronúncia.

Por outro lado, eu não consigo mais me imaginar não sendo estrangeira.
Eu não consigo imaginar um mundo onde seja todo mundo igualzinho.
Eu não conseguiria ter ficado.

E daí, vez que outra, eu lembro q moro aqui.
Que gosto daqui.
Que me perdi e me encontrei aqui.
Que encontrei e encontro pessoas q fazem valer a pena.

E daí, vez que outra, fica um pouco + fácil ser estrangeira.

💛

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Carol Milters

Escritora, Investigadora & Facilitadora
Saúde Mental no Trabalho, Síndrome de Burnout, Workaholismo & Escrita Reflexiva


Autora dos livros, "Minhas Páginas Matinais: Crônicas da Síndrome de Burnout" e Um Passo Por Dia: Meditações para (re)começar, sempre que preciso idealizadora do grupo de acolhimento Burnoutados Anônimos e conselheira do Instituto Bem do Estar.

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Carol Milters

Escritora, Investigadora & Facilitadora
Saúde Mental no Trabalho, Síndrome de Burnout, Workaholismo & Escrita Reflexiva


Autora dos livros, "Minhas Páginas Matinais: Crônicas da Síndrome de Burnout" e Um Passo Por Dia: Meditações para (re)começar, sempre que preciso idealizadora do grupo de acolhimento Burnoutados Anônimos e conselheira do Instituto Bem do Estar.

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