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Observações de diversas naturezas, profundidades e extensões.
Diretamente daqui de dentro, pra chegar aí dentro 💛

“É aterrorizante sair do planeta. Mas nossa, como é bom!”

Há três anos e sete dias, eu saía de Esteio para Porto Alegre, pegava um voo pra Guarulhos e, de lá, um voo para Roma. Eu não tinha passagem de volta.

Eu, minhas malas, mochilas e memórias.

Eu sabia que seria difícil, mas sentia que valeria a pena. Nada nem ninguém te prepara pra começar de novo. Ser estrangeiro é reaprender tudo: correios, supermercado, feira, cumprimentos, produtos de limpeza, tomadas, relações. Os documentos são outros. As pessoas são outras.

Logo que me mudei pra Holanda, a minha afilhada mais nova dizia que eu tinha saído do planeta. Pra ela, era tão inconcebível alguém que tava ali, sempre, a alguns quilômetros dela, partir pra um lugar mais longe do que ela poderia sequer imaginar. Eu ri muito quando ouvi ela dizendo aquilo pela primeira vez. A minha outra afilhada, a mais velha, já fazia perguntas mais práticas: “que horas são aí, dinda?”. Um dia, ela me disse, “aqui é quinta-feira, e aí, também é?” Ri de novo.

Mas veja: o horário é outro. A estação é outra. A língua é outra. Faria todo o sentido ser outro dia da semana.

Aqui é, mesmo, outro planeta.

E não tem como descrever a experiência de “sair do planeta” pra quem nunca o fez. Existem nuances, utensílios de cozinha, sons, sensações que escapam da compreensão.

Quando a gente faz uma mudança dessas, que pode ser de um país pro outro, ou de um estado pro outro pra quem vive num país do tamanho do Brasil, é como se a gente realmente estivesse suspenso no ar.

Eu não sou daqui. Mas também não sou mais de lá.
E assim vai continuar sendo.

@evelynstam_family falou algo que me ajudou muito nesse processo: a gente pode olhar pra isso pela falta, ou pela oportunidade.

É uma escolha. A gente pode se sentir um ET em todos os lugares, buscar aquela sensação de pertencimento que nunca mais vai voltar pelo resto da vida, lamentar o que ficou pra trás, se arrepender do movimento. Ou a gente pode abraçar tudo o que vem de bom nisso: os jantares em três idiomas, as novas formas de ver o mundo, as novas relações que surgem daí, a beleza de poder, sim, desafiar a geografia.

É aterrorizante sair do planeta.
Mas, nossa, como é bom. 💛

Carol Milters

Carol Milters
Carol Milters

Escritora, Investigadora & Facilitadora
Saúde Mental no Trabalho, Síndrome de Burnout, Workaholismo & Escrita Reflexiva


Autora dos livros, "Minhas Páginas Matinais: Crônicas da Síndrome de Burnout" e Um Passo Por Dia: Meditações para (re)começar, sempre que preciso idealizadora da Semana Mundial de Conscientização da Burnout, do grupo de apoio online Burnoutados Anônimos e conselheira do Instituto Bem do Estar.

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