Semana que vem vai fazer três anos que eu publiquei meu primeiro livro, o Minhas Páginas Matinais. E foi com ele que eu aprendi a valorizar o que eu já tenho ao invés de ficar sempre mirando no que ainda me falta.
O livro em si surgiu de um bloqueio criativo enquanto eu escrevia outro livro, mais teórico, sobre a síndrome de burnout, e me sentia sem saída. Foi meu namorado quem me disse, enquanto a gente fazia um churrasco na beira de um canal aqui perto de casa numa tarde de verão: “o que mais aproxima as pessoas é a tua história, e é ela que tu precisa contar. Acho que a coisa é mais simples do que tu imagina”. No dia seguinte, eu acordei inspirada, escrevi bastante e fui buscar referências nos meus escritos pra recomeçar.
Foi aí que eu descobri que eu já tinha o que precisava, e foi aí que o meu primeiro livro nasceu.
Enquanto me preparava pra lançar o livro e me aventurava nessa coisa de publicação independente, mercado editorial e tudo mais, senti que não me faria bem fazer um esforço convencional de lançamento, porque essa palavra carrega um peso, uma expectativa de sucesso extraordinário, uma necessidade de validação do outro e uma lacuna que não tá no meu controle de preencher.
Ao invés de chamar de lançamento, eu chamei de celebração.
E ao fazer isso eu mudei toda a lógica da coisa. O processo se tornou muito mais leve: o livro já estava escrito, o desafio já estava transposto. Eu não precisava mais uma montanha pra escalar tendo recém-chegado a um ápice que me era inimaginável.
O que eu ainda não tinha clareza, três anos atrás, é que eu não só estava subvertendo uma lógica minha: eu estava fazendo uma micro, nano revolução num discurso hegemônico que tenta (e consegue) nos lembrar todo santo dia que não somos, não temos e não fazemos o suficiente.
Desde a celebração do meu primeiro livro, eu também celebrei o segundo, o terceiro, e o quarto (ok, são dois livros, mas em dois idiomas, então me permita contá-los como 4).
Com isso, eu me senti à vontade pra trazer bolo, balão, música e brinde, mesmo em sendo livros que tratam de temas difíceis. Porque o celebrar não pressupõe uma realidade perfeita: pressupõe apenas valorizar o que existe no aqui e agora.
Ontem eu abri as inscrições para o meu segundo curso, e eu tenho um orgulho imenso de ter do meu lado mulheres tão maravilhosas, com quem aprendo tanto e com que eu consigo construir um jeito tão especial de fazer o meu trabalho.
Sou muito grata de ter a Mari Nascimento como co-produtora, alguém que estuda e entende tudo sobre esse mercado que tem tanto potencial mas que também pode ser tão nocivo pra nossa saúde mental, e com quem eu consigo ter trocas honestas sobre como conciliar um trabalho que seja sustentável financeiramente e alinhado aos meus valores e princípios mais inegociáveis.
Sou grata à Cibele Castro, que se voluntariou pra falar lá na I Semana de Conscientização da Burnout e rendeu um dos meus painéis preferidos da história do evento, e ofereceu uma aula-bônus pro Curso Saúde Mental no Trabalho, compartilhando um conhecimento e uma sabedoria com práticas que eu tenho usado todos os dias na minha rotina.
Ao abrir o carrinho do curso ontem, eu cheguei muito perto de entrar no vórtice da ansiedade da performance: quantas pessoas vão comprar? Será que alguém vai se interessar por isso?
É lógico que qualquer trabalho precisa ser recompensado e remunerado, e é parte da visão de negócio de uma pessoa autônoma, como eu, olhar para os números finais. Mas veja bem: não é deles que eu devo tirar o meu senso de valor próprio – ou até mesmo o valor do meu trabalho.
Essa noção é fruto de um trabalho de muitos anos de autoconsciência, é fruto de muita escrita, muita terapia, muita conversa comigo mesma e com os meus. É fruto de muita consciência social, e talvez um pouco de maturidade que vem com a idade.
Porque eu sei o quanto eu ganho ao dançar conforme a música do discurso hegemônico – mas eu também sei o quanto me custa.
E esse custo eu não pago mais, por nada desse mundo.
Com amor,
Carol Milters 💛
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