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Autoexploração crônica: a quem estamos devendo tanta produtividade?

Você já notou que não existe mais zerar a lista de tarefas?

Não existe mais esvaziar a caixa de entrada. Não existe mais o “tá tudo entregue”. 
Estamos em uma era de autoexploração crônica.

Cheguei a essa conclusão enquanto me preparava para entrar em férias no verão de 2023. Eu, uma pós-burnoutada que estuda e atua com saúde mental no trabalho, que faz terapia há mais de 20 anos, que é rodeada por especialistas nos assunto e que tenho o privilégio de sequer sair de férias.

Lembrei da primeira vez que tirei férias sob o (quase saudoso) regime CLT, há uns quinze anos. No meu último dia pré-férias, eu fiquei até 9 da noite no escritório, enviei o último e-mail, risquei a última tarefa, fechei o laptop e fui pra casa. 

O trabalho ficou lá, no escritório. Lembra como era? 

A cada ano que passa, me parece que isso tem se tornado cada vez mais inviável.

Por muito tempo (tempo demais), achei que fosse incompetência minha. 
Falta de gestão de tempo, inabilidade de planejamento, TDAH, ascendente em sagitário… 

Por mais que isso aí tudo também exista, e eu também entenda os pontos que preciso melhorar, eu também tenho certeza de que isso não acontece só comigo.

“Hoje o indivíduo se explora e acredita que isso é realização”, diz o filósofo sul-coreano Byung Chul Han, autor do livro e do conceito Sociedade do Cansaço  (The Burnout Society).

Não importa o quanto você se arrebente ou até que horas você trabalhe, você não vai zerar a sua lista de tarefas.

Porque as demandas chegam por todos os lados, a toda hora.

Porque a gente mesmo cria demanda.
Porque estamos cada vez mais desacostumados a encerrar as coisas.

Vejo o que ainda está pendente, e fico tentando espremer até o último minuto.

Mas também percebo que se eu quiser zerar a minha lista de tarefas eu vou cumprir tarefa 24 horas por dia, 7 dias por semana, e não será o suficiente.

É preciso se dar conta que esta é a nossa realidade daqui em diante.

É preciso que a gente seja mais gentil com nossos atrasos e incompetências, que a gente se compreenda mais e compreenda também a falta do outro.

É preciso que a gente reflita: da lista infinita, o que realmente precisa ser feito?

O que realmente a gente quer fazer com o tempo limitado que temos, com a energia limitada que temos, com a vida preciosa que temos?

É preciso que a gente resista a essa autoexploração crônica. 

Que a gente lembre que nem sempre foi assim, e nem precisa ser assim pra sempre.

Que a gente alivie uns aos outros da exploração, da cobrança, da exigência por piloto automático.

E lembre-se: descanso e lazer são direitos humanos universais.

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Carol Milters

Escritora, Investigadora & Facilitadora
Saúde Mental no Trabalho, Síndrome de Burnout, Workaholismo & Escrita Reflexiva


Autora dos livros, "Minhas Páginas Matinais: Crônicas da Síndrome de Burnout" e Um Passo Por Dia: Meditações para (re)começar, sempre que preciso idealizadora da Semana Mundial de Conscientização da Burnout, do grupo de apoio online Burnoutados Anônimos e conselheira do Instituto Bem do Estar.

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