Enquanto jogava Banco Imobiliário com meu namorado ontem à noite, eu disse pra ele: “sabe o que mais me incomoda nesse jogo? Que eu sinto que preciso torcer pro teu azar pra ter alguma chance”.
Eu nunca sei se gosto mesmo de jogar esse jogo – a riqueza simbólica desse jogo chega a ser um pouco perturbadora. O papel da sorte em determinar os nossos rumos, a acumulação de riqueza em níveis obscenos, a eterna roleta que pode te fazer perder tudo do dia pra noite – roleta essa que funciona até certo ponto: chega uma hora do jogo em que você se torna, sim, praticamente imbatível.
A minha relação com dinheiro ainda causa muita angústia, preciso te confessar.
Culturalmente, historicamente, temos todos uma relação torta com ele. Ter ou não ter dinheiro afeta nossa percepção do mundo, afeta nossa identidade, autoestima e senso de valor próprio.
Ironicamente, depois do meu quase insignificante desabafo, eu virei o jogo (o de tabuleiro). Eu estava quase falida, e ele tinha dois hotéis nos bairros mais ricos. Fui me reerguendo e contando com a sorte dos dados. Nem precisei torcer pro azar do meu namorado.
Pedi pra ele tirar essa foto minha, dizendo que fazia anos que eu não me dava bem financeiramente, que já nem lembrava mais como era ter bastante dinheiro daquele jeito.
Isso é tudo um jogo.
Um jogo que eu já ganhei algumas vezes, e certamente vou ganhar outras tantas.
Mas também jogo que eu já perdi e vou perder, provavelmente, muitas outras vezes, em nome da lealdade aos meus princípios, à minha ética e à autocoerência – e também, em função da sorte, das circunstâncias, e da minha própria capacidade, é claro.
O que importa é saber que a gente precisa continuar jogando, acreditando mesmo quando só vem revés, se reerguendo depois de cada queda.
E não, não precisa torcer pelo azar do outro.
Carol Miltersteiner 💛