Entrevista veiculada na edição 1192 da revista Carta Capital
Veiculada em: 21 de janeiro de 2022
Reportagem: Fabíola Mendonça
Eu e a empresa crescemos muito e muito rapidamente. Assumi um nível de responsabilidade bastante elevado para a minha idade, formação e experiência, um ritmo extremamente acelerado de trabalho, sempre atendendo todo mundo, resolvendo problemas e achando que ainda não estava fazendo o suficiente. Sem pausas, fui acumulando infecções e inflamações intestinais e respiratórias. Senti uma dor no peito por um ano. Tive crises de ansiedade em hotéis, aeroportos, dirigindo, voltando de cliente. Comecei a sentir que nada do que fazia tinha sentido, de que eu estar ali, ou não, não fazia diferença. Tive uma depressão que me isolou da minha própria equipe, e o CEO, em vez de perguntar como eu estava, me repreendeu por não estar mais presente com o time.”
O relato acima é da publicitária Carol Milters, que, em 2015, se desligou da sociedade que tinha com a empresa por não conseguir mais continuar com o ritmo de trabalho extenuante que levava. Dois anos mais tarde, já morando na Holanda, onde vive até hoje, teve um segundo episódio de exaustão laboral e foi diagnosticada com Síndrome de Burnout, uma enfermidade que, a partir deste mês, foi incluída na classificação internacional de doença pela Organização Mundial da Saúde, com direito, inclusive, a um número do Código Internacional de Doenças (CID). Depois do esgotamento decorrente do trabalho, Milters debruçou-se a estudar o tema e atualmente é uma das coordenadoras do Burnoutados Anônimos, um grupo de apoio online com encontros mensais, reunindo pessoas de vários países. É ainda autora do livro Minhas Páginas Matinais: Crônicas da Síndrome de Burnout, publicado em português e em inglês e presente em mais de 15 países, onde relata sua experiência com a doença.