Dos últimos 45 meses da minha vida, eu passei quase 39 em reabilitação da síndrome de burnout.
É quase 90% dos meus últimos quatro anos. Conseguir trabalhar plenamente é exceção à regra.
Muita gente passa por isso. Passa por questões parecidas. E na hora de buscar outro emprego, morre de medo de ser julgada pelo recrutador. Ou até mesmo se mantendo no mesmo emprego, morre de vergonha de precisar passar tanto tempo afastada.
Eu mesma, quando fui selecionada pro meu último emprego, dois anos atrás, disse que o meu ano e meio sem trabalhar era um período sabático. E por um lado, era mesmo. Viajei, tomei decisões importantes e comecei a processar os eventos que haviam ocorrido comigo. Mas no meu sabático, eu precisava de dias pra me recompor de qualquer experiência. No meu sabático, eu sequer conseguia pensar em trabalho.
E não foi porque eu gosto da ~boa vida~, ou porque eu não gosto de trabalhar.
Eu gosto DEMAIS de trabalhar.
Não pensar em trabalho e ficar fisicamente doente na mais sutil tentativa de reconexão com ele não era um sinal de preguiça. Era um sintoma de que a síndrome ainda estava ali, silenciosa, se disfarçando de um monte de outras coisas que eram mais fáceis pra mim e pros outros digerirem.
Hoje, entendendo melhor o que realmente aconteceu comigo, lembrando que eu passei mais de um ano inteiro fazendo infecções quase mensalmente e ainda trabalhando incansavelmente, e avaliando como eu passei aquele período, eu entendo que foi, sim, um período de reabilitação. Um período que me deixou mais ou menos apta a trabalhar em outro lugar. Mais ou menos, porque em menos de quatro meses eu desabei de novo. E aí entrei em licença, e sigo até hoje me recuperando.
Faz menos de dois meses que eu me considero recuperada. Consigo colocar energia em coisas produtivas e consigo encontrar pessoas sem precisar descansar por uma semana inteira. Me vejo mais estável e capaz de seguir a minha agenda, que ainda não prevê mais do que 20 ou 30 horas de trabalho produtivo por semana.
E já que nem todo mundo pode deixar marcado, escancarado, esse tempo difícil, doído – mas que também ensina pra caramba – deixo eu.
Tá ali, ó, seu LinkedIn. 39 meses em reabilitação.
Carol Milters