Burnout: uma síndrome em 3 atos
– 1° Ato –
“Não tenho tempo nem de respirar”, a gente diz.
Os dias voam.
Já é quinta-feira?
A gente sente raiva do chefe,
raiva do colega,
raiva do cliente,
raiva de nós mesmas.
A gente quer abraçar o mundo.
E quer fazer isso melhor do que ninguém.
O nosso entorno aplaude, celebra a corrida.
Não foi a gente que inventou o acelerador.
O tempo escorre pelas mãos.
Nunca é o suficiente.
Mais um café.
Mais uma noite em claro.
Não sobra tempo pra respirar.
Até que um dia,
no pior momento possível,
o ar nos falta.
E o fogo apaga.
– 2° Ato –
O corpo se entrega.
A mente paralisa.
Os dias se arrastam.
A gente só quer que chegue o amanhã,
porque amanhã talvez a gente se sinta melhor.
O mundo continua girando em torno de nós.
Rápido demais.
Cadê a força que tava aqui?
Como isso foi acontecer comigo?
“Não faz pergunta difícil”,
a gente diz
quando alguém pergunta,
“tá tudo bem?”
Tudo cansa.
Os dias e as noites se confundem.
As consultas,
os exames,
as prescrições.
Parece que a gente nunca mais vai dar conta de viver uma vida “normal”.
E a gente tenta voltar ao “normal” por tempo demais.
Até que um dia, nos damos conta de que o normal é inventado.
E que o nosso normal pode ser inventado por nós.
Pode ser o que a gente quiser.
E a chama reacende devagar.
– 3° Ato –
O sol volta a bater na janela do nosso quarto.
Foram meses, anos, na escuridão.
Ao mesmo tempo,
parece que passou tão rápido.
Os dias voltam a ter graça.
A gente consegue fazer uma promessa
e cumprir aquela promessa.
Enxergamos os limites.
Assimilamos os traumas.
Nos permitimos ir atrás dos nossos desejos.
Reaprendemos a caminhar,
a nos relacionar,
a trabalhar.
As recaídas nos abalam,
e a gente aprende a conviver com elas.
O nosso eixo agora é visível,
cristalino.
A vida segue nos tirando do eixo,
nos atira pra lá e pra cá.
Mas a gente agora sabe pra onde voltar.
As coisas continuam saindo do nosso controle,
mas a gente agora ri disso tudo.
O nosso fogo agora aquece sem queimar.
E a gente aprende, dia após dia,
que pode brilhar sem incendiar.