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Observações de diversas naturezas, profundidades e extensões.
Diretamente daqui de dentro, pra chegar aí dentro 💛

Uma síndrome em 3 atos

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Burnout: uma síndrome em 3 atos

– 1° Ato –
“Não tenho tempo nem de respirar”, a gente diz.

Os dias voam.
Já é quinta-feira?

A gente sente raiva do chefe,
raiva do colega,
raiva do cliente,
raiva de nós mesmas.

A gente quer abraçar o mundo.
E quer fazer isso melhor do que ninguém.
O nosso entorno aplaude, celebra a corrida.

Não foi a gente que inventou o acelerador.

O tempo escorre pelas mãos.
Nunca é o suficiente.

Mais um café.
Mais uma noite em claro.

Não sobra tempo pra respirar.

Até que um dia,
no pior momento possível,
o ar nos falta.

E o fogo apaga.

– 2° Ato –
O corpo se entrega.
A mente paralisa.

Os dias se arrastam.
A gente só quer que chegue o amanhã,
porque amanhã talvez a gente se sinta melhor.

O mundo continua girando em torno de nós.
Rápido demais.

Cadê a força que tava aqui?
Como isso foi acontecer comigo?

“Não faz pergunta difícil”,
a gente diz
quando alguém pergunta,
“tá tudo bem?”

Tudo cansa.

Os dias e as noites se confundem.
As consultas,
os exames,
as prescrições.

Parece que a gente nunca mais vai dar conta de viver uma vida “normal”.
E a gente tenta voltar ao “normal” por tempo demais.

Até que um dia, nos damos conta de que o normal é inventado.

E que o nosso normal pode ser inventado por nós.
Pode ser o que a gente quiser.

E a chama reacende devagar.

– 3° Ato –
O sol volta a bater na janela do nosso quarto.

Foram meses, anos, na escuridão.
Ao mesmo tempo,
parece que passou tão rápido.

Os dias voltam a ter graça.
A gente consegue fazer uma promessa
e cumprir aquela promessa.

Enxergamos os limites.
Assimilamos os traumas.
Nos permitimos ir atrás dos nossos desejos.

Reaprendemos a caminhar,
a nos relacionar,
a trabalhar.

As recaídas nos abalam,
e a gente aprende a conviver com elas.

O nosso eixo agora é visível,
cristalino.

A vida segue nos tirando do eixo,
nos atira pra lá e pra cá.
Mas a gente agora sabe pra onde voltar.

As coisas continuam saindo do nosso controle,
mas a gente agora ri disso tudo.

O nosso fogo agora aquece sem queimar.

E a gente aprende, dia após dia,
que pode brilhar sem incendiar.

Carol Milters
Carol Milters

Escritora, Investigadora & Facilitadora
Saúde Mental no Trabalho, Síndrome de Burnout, Workaholismo & Escrita Reflexiva


Autora dos livros, "Minhas Páginas Matinais: Crônicas da Síndrome de Burnout" e Um Passo Por Dia: Meditações para (re)começar, sempre que preciso idealizadora da Semana Mundial de Conscientização da Burnout e do grupo de apoio online Burnoutados Anônimos.

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