Em tempos de feeds e faces harmônicas, de filtros irreais e de ilusões de sucesso, é ainda mais urgente a gente se lembrar da nossa própria impossibilidade de ser bom em tudo, e aceitar que a gente é, sim, incompetente em alguma coisa. Em muita coisa.
Essa frase da imagem me veio enquanto eu guardava a louça, pensando em responder uma das muitas pessoas que eu ainda não respondi no WhatsApp, já compondo mentalmente a mensagem, dizendo: “pois é fulano, eu sou incompetente em Whatsapp”.
Tempos atrás esse pensamento me assombraria. Eu, incompetente em alguma coisa? Paradoxalmente, eu não me achava particularmente boa em nada do que eu fazia, e ao mesmo tempo não me permitia ser incompetente em nada que me aventurasse.
Ser vista como incompetente? Credo! Receber uma crítica, um feedback mais duro (ainda que respeitoso e relacionado ao meu trabalho)? Sai daqui!
Será que eu preciso dizer aonde essa rigidez toda me levou?
Isso mesmo.
Me quebrou.
Me jogou no abismo.
Me impediu de experimentar inúmeras vezes, no trabalho, e na vida.
Hoje em dia, eu já construí uma tolerância muito maior à minha própria incompetência – o que também me deixa mais tolerante à incompetência alheia. O que me deixa menos alerta pros erros de português e desencaixes. O que me deixa muito mais tranquila e relaxada.
Veja bem: não estou fazendo apologia à incompetência.
Não cometamos o equívoco do pensamento dicotômico: se não dá pra ser perfeito, então vai de qualquer jeito. Nada disso.
Estou justamente mostrando pra você e pra mim que existe um espaço imenso entre uma coisa e outra. Que talvez, ao sermos honestos com a gente mesmo e com o mundo sobre as nossas próprias limitações, a gente desconstrua um pouco esse ideal do eu que é tão frágil, esse ideal do outro que é tão perigoso, esse ideal do mundo que é tão utópico. E que isso nos liberte pra olhar pro que realmente funciona e deve ser celebrado, sem filtro, sem bisturi e sem harmonização.
Não brigue com a sua incompetência.
Recomece por aí hoje.