Uma pessoa que fez parte da minha vida por muitos anos me contou uma história: uma mulher cuidava do marido, que tinha Alzheimer. Uma vez, vendo a dedicação dela pelo marido, alguém perguntou: “ele nem se lembra mais de você, por que visitá-lo todos os dias e cuidar tanto dele?” E ela respondeu, “ele pode ter esquecido de quem eu sou, mas eu não me esqueci de quem ele é”.
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Meu avô materno faria 87 anos essa semana. Ele faleceu mês passado, depois de mais de uma década com Alzheimer. Minha mãe cuidou dele até literalmente o último segundo. Meu pai e ela não mediram tempo, cansaço, nada, dedicando-se a ele de forma quase heroica.
Quando alguém adoece ou passa por uma situação difícil, é um peso imenso pra quem está do lado. É desafiador amar quem não parece mais estar ali, seja por uma limitação física, mental, emocional, ou por um período de confusão.
Todos nós passamos por momentos em que não somos a gente. Seja por estar passando alguma dificuldade, por estar lutando contra algo pesado, por estar sem o norte do que realmente importa.
E são essas pessoas, que lembram de quem a gente é, que nos levantam. Elas sabem que a gente é mais do que a doença, mais do que a névoa, mais do que a soberba. Sem saber, ou sabendo, elas nos conduzem de volta pro centro. Ou, quando não é mais possível voltar, nos carregam pela mão para a hora mais escura.
Jamais me esquecerei dos carteados, das risadas, dos churrascos, dos passeios e das mágicas do meu avô. Jamais me esquecerei do carinho dele com os bichos e as crianças, do quanto ele sacrificou pela família.
Eu garanto que tem alguém aí do teu lado que também não esquece das coisas mais simples e mais essenciais de quem você é.
Eu agradeço todos os dias pelas pessoas que tenho ao meu lado – no Brasil, na Holanda, em outro plano.
Aos que não se esquecem de quem a gente é.
Aos que permanecem do nosso lado, mesmo quando parece impossível.
E aos que nos ensinam a não esquecer.
Parabéns, vô.
PS: a história, originalmente, era sobre o marido cuidando da esposa doente. Mas para o contexto da frase principal aqui, inverti os gêneros. 😇
Carol Milters