O ano era 2015.
Eu reservei uma noite em uma suíte do Marriott em Nova York.
Comprei ingressos pra um ballet no Licoln Center.
Jantei no melhor sushi de uma das cidades mais caras do mundo.
Estava com alguém que fingia ser o que não era.
E ainda não tinha entendido que eu, também, estava desesperadamente fingindo ser quem eu não era.
Tudo o que eu fiz no dia do meu aniversário foi proporcionado por mim mesma, pago por mim.
O único presente que eu receberia naquela data seria um vídeo onde amigos e família me davam os parabéns.
Quando eu assisti o vídeo, milhares de fichas me caíram.
Eu me senti perdidamente sozinha.
As únicas pessoas que apareceram no vídeo foram: meus pais; minha irmã e minhas afilhadas – amores da minha vida; um amigo de infância que nem imagina o quão feliz me fez naquele momento; e alguns colegas de trabalho, todos juntos no escritório.
Os colegas sequer pararam de trabalhar pra me dar os parabéns.
Eles se filmaram ainda nas mesas, cantando parabéns.
Dava pra ver que já era noite atrás deles.
O que estava filmando me disse, tão somente – “celebra o teu dia no restaurante tal”.
Ali eu entendi.
Não era sobre quem eu era.
Era sobre o que eu fazia.
Era sobre o que eu comprava.
Era sobre os lugares aonde eu ia.
Eu me senti terrivelmente sozinha.
Eu comecei a entender todas as coisas que eu andava fingindo ser,
fingindo gostar,
fingindo escolher.
Ao terminar de ver o vídeo, eu dormi.
Nunca mais voltei ao trabalho como antes.
A nenhum trabalho.
(continua no próximo post)