Escrever liberta.
Quatro anos atrás, eu comprei esse caderninho.
Eu estava no meio de um Burnout e não sabia.
Nos três anos anteriores, me atirei de corpo e alma no trabalho.
Vi ali uma forma de preencher vazios imensos que eu carregava.
Vi ali uma forma de ser independente, de ser reconhecida, de ser importante.
O meu entorno me recompensou:
ganhei dinheiro,
ganhei responsabilidades,
ganhei títulos.
Mas me perdi de mim.
Parei de escrever “Tudo bem?” nos e-mails,
porque não podia perder tempo com “besteira”.
Parei de rir no escritório porque precisava ser respeitada.
Parei de sair,
de ler,
de fazer o que me fazia feliz.
À medida que eu fui ganhando respeito,
também fui ganhando acesso a salas menores,
a poderes maiores.
E ali eu comecei a ver descaso.
Fofoca.
Competição velada.
Mentira, pra lá e pra cá.
Comecei a ver gente que eu respeitava agindo de forma antiética.
Entendi que,
ou eu me tornava um deles,
ou sucumbia.
Sucumbi.
Acumulei infecções.
Entrei em depressão.
Tive crise de ansiedade.
Comecei a beber whisky todas as noites pra conseguir dormir.
Quatro anos atrás, eu tentava deixar isso tudo pra trás.
Eu começava a buscar um jeito diferente de ver a vida.
Eu começava a me ouvir, e a me respeitar.
Eu começava a entender
que o meu valor não estava nas horas que eu dedicava a uma empresa,
ou no quanto eu ganhava.
Eu começava a me encontrar de novo.
Hoje,
me vejo aqui,
sentada,
quarentenando,
traduzindo o meu primeiro livro.
Sabendo direitinho quem eu sou.
Tendo precisado adoecer tudo de novo.
Tendo precisado tomar porrada de todos os lados
pra finalmente entender.
Sabendo que talvez eu precise tomar mais algumas porradas,
e que às vezes a vida usa de meios não tao pacíficos pra nos ensinar as coisas.
Me sinto liberta.
Que bom que eu comprei esse caderninho.
Com amor,
Carol Miltersteiner 💛