Compaixão é uma palavra que anda presa aqui na garganta, querendo sair. Querendo se expressar no mundo, querendo contagiar e se fazer presente em mim.
Compaixão é, talvez, a coisa mais importante que a gente precise levar pra próxima década. É, com certeza, uma das coisas mais importantes que a gente precisa praticar no aqui e agora.
Não é fácil se despir do julgamento, que é o oposto da compaixão. Não é fácil se assumir vulnevável, sair do posto de donx da verdade. Não é fácil aceitar a vida como é, as coisas e as pessoas como elas são, a gente mesmo como veio ao mundo.
Quem dera existisse um pó de pirlimpimpim que acabasse com a dor, zerasse a angústia, extinguisse a miséria, curasse a ansiedade, aniquilasse os perigos da esquina.
Mas não existe esse pó.
O que existe é acordar, dia após dia, colocar os pés pra fora da cama, e se ver consigo e com o mundo. Com tudo o que o mundo tem de estranho, com tudo o que a gente tem de boleto e de dor de cabeça. O que existe é conversar com as angústias, investigar a que vieram, agradecer pela tentativa de cuidar da nossa sobrevivência desse jeito torto, e aceitar que as levaremos vida afora. “Por isso mesmo é que há de haver mais compaixão”, diria o Gil.
Era por outros motivos que ele cantava, mas esse verso é verdadeiro em qualquer dia, em qualquer hora da nossa vida. Sempre cabe um pouco mais compaixão.
Nos nossos processos internos, não há como nos entendermos sem ela. Seria insuportável viver olhando só pro nosso vazio e lamentando por tudo o que a gente NÃO é e tudo o que a gente NÃO faz. Ao invés disso, nos perdoar, perdoar a quem a gente permitiu que nos causasse dor. Não tem a ver com concordar, veja bem; tem a ver com aceitar o que é e se permitir seguir adiante.
A nossa saúde mental requer compaixão.
Pesquise aí, autocompaixão + saúde mental.
Não se nasce com ela aflorando em nós. Eu que sei.
Precisei que os livros me explicassem por que ela é fundamental. Precisei entendê-la racionalmente, entender como ela se manifesta no nosso sistema nervoso, pra finalmente aceita-la, buscá-la e, vez que outra, me autorizar a senti-la.
E que bom que ela existe.
Carol Milters